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domingo, 12 de julho de 2020

ERÓTICO OU PORNOGRÁFICO?

O erótico e o pornográfico rescendem ao mesmo perfume, no entanto, podem possuir notas distintas.
Para muitos o erotismo é encarado como a procura do prazer pelo belo, decentralizado dos órgãos genitais, sendo de ordem subjetiva e pode, assim, ser representado nas dimensões criativas, “é algo tendendo ao sublime, espiritualizado, delicado, sentimental e sugestivo [...] lembra a sutileza, a tensão sexual implícita, não abertamente exibida” afirma, Jorge Leite, no livro "Das Maravilhas dos Prodígios Sexuais".
Thumbnail image for IMG_3414.JPGFoto: Viviane Rodrigues
Paulo Ghiraldelli acredita que a arte erótica o é, na medida em que se alia ao mistério, a imaginação. Assim sendo, o principal objetivo do erotismo é dar corpo aos aspectos da sexualidade, deixando a excitação para a pornografia. “Em consequência ele pode estimular a sexualidade e/ou representá-la simplesmente em seu conjunto de afetos, atos e energia sexual” diz o psicólogo, Claudio Picazio.

O erótico é basicamente sensual e não sexual, ao contrário do pornográfico. Ele, o erótico, pode até se referir ao ato sexual, mas sempre de uma forma indireta, ou seja, não é sua intenção única ou primeira. Existem outras emoções que perpassam a ele. Mesmo que represente um ato sexual explícito, tem como sua maior força a sensualidade. O erotismo estimula o que nos permitimos ter, viver, fantasiar, diz o psicólogo. IMG_4035.JPGFoto: Juh Moraes
Thumbnail image for 1795617_10203284890460175_718305516_n.jpgFoto: Viviane Rodrigues
No erotismo há um universo de possibilidades da transgressão. O poder está em violar e ultrapassar normas impostas que oferecem um sabor de perigo, um sentido de infração enuncia George Bataille, em um livro clássico, "O Erotismo", de 1968.
Já Foucault atribui o poder de transformar o erótico em pornográfico à religião, já que, em um primeiro momento “o confessionário católico foi sempre um meio de controle da vida sexual [...] a sexualidade foi reconhecida e imediatamente reprimida – tratada como a origem patológica da histeria”. Para Ghiraldelli, nestes termos o erótico pertence ao espírito do Renascimento, enquanto que o pornográfico é próprio do espírito da Modernidade. O pensador Roland Barthes, dono de livros incríveis como "Fragmentos de um Discurso Amoroso" acredita que, por exemplo, uma foto erótica, ao contrario, não faz do sexo um objeto central; ela pode muito bem não mostrá-lo "[...] a foto me induz a distinguir o desejo pesado da pornografia, do desejo leve, do desejo bom e do erotismo".
Thumbnail image for IMG_2915b.jpg
Para Jorge Leite a pornografia é “considerada como aquilo que transforma o sexo em produto de consumo [...] evoca um conceito mais carnal, sensorial, comercial e explicito”. Outro autor, Nuno César de Abreu escreveu um livro bem interessante, "O o Olhar Pornô - A Representação do Obsceno no Cinema e no Vídeo", considera que à pornografia é imputada a perversa capacidade de se infiltrar nos discursos, de impregnar os objetos, de contornar as barreiras para se expor. É caracterizada, muitas vezes, por separar, cortar, decupar os corpos, retirando sua integridade física e social.
De maneira generalizada, quando se fala em pornografia, se vincula mui instantaneamente ao explícito. Há então, uma explicitação existente na pornografia, que não existe no pensamento erótico(?). Enquanto a pornográfica subjuga o sensível, o erótico o acariciaria (?). Erótico é insinuar (?). Pornográfico é “por no gráfico” diz Ghiraldelli, onde o predominante é a excitação e o descarrego da tensão sexual. Pornografia é algo explícito, que atrai e repudia ao mesmo tempo, sugere Picazio.
IMG_3828.JPG Foto: Viviane Rodrigues.
No pornográfico, também o hardcore, que Nuno César de Abreu conceitua como um gênero delimitado a partir de planos do pênis ereto, da vagina e da penetração, ou mais propriamente, o money shot, ou o plano da ejaculação masculina nos filmes da indústria pornô. Convenções imagéticas do sexo para venda.
IMG_0270b.jpgFoto: Viviane Rodrigues
No fundo, a obscenidade da obra depende inteiramente dos seus olhos (dos sentidos), do repertório, da (de)formação de quem vê, embora, isto não interesse necessariamente ao artista.
Então parece cabível perguntar, com tantas estéticas eróticas e pornográficas, de que erotismo e pornografia se fala quando se fala? De qualquer maneira é sempre melhor abrir horizontes que fechar fronteiras.
(Trecho retirado e adaptado do meu artigo ""Vênus Negra" e "Azul é a Cor mais Quente" - Erotismo e pornografia no cinema de Abdellatiff Kechiche")

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