Saiba como o computador portátil evoluiu em quase 50 anos de história, dos primeiros (e pesados) protótipos aos laptops de hoje
O computador portátil evoluiu junto com os desktops, e de certa forma um derivou do outro. Os primeiros projetos de computadores que poderiam ser levados para todo canto, opostos aos mainframes e grandes máquinas estáticas resultaram em duas vertentes, uma levando aos computadores de mesa, e outra aos laptops.
No entanto, muita coisa mudou em quase 50 anos de história.
Neste artigo, vamos dar uma olhada nos primeiros modelos de computador portátil disponíveis ao público, e aprender que nem sempre foi muito simples, nem muito barato, andar com um dispositivo inteligente a tira-colo.
0. Dynabook (1972)
O primeiro registro que se tem notícia de um computador pessoal portátil não chegou sequer a ser construído: a ideia original partiu do cientista da computação Alan Kay, que em 1968 apresentou um projeto para seu doutorado chamado "KiddyComp", nas suas palavras, "um computador pessoal que qualquer criança poderia usar".
Somente em 1972 Kay trabalhou melhor a ideia e submeteu uma patente do projeto, já renomeado para Dynabook. Olhando hoje, ele seria basicamente um tablet com teclado, um computador em corpo sólido que não poderia ser fechado. Embora voltado originalmente para projetos educacionais, adultos também poderiam usa-lo em duiversas aplicações.
Ainda que os laptops em geral meio que derivem deste conceito, Kay acredita que nenhum subproduto, de PCs a tablets e notebooks, sejam versões que sigam a filosofia do Dynabook, por não focarem primariamente em crianças e educação.
Nesse ponto, a ideia do OLPC (One Laptop Per Child, ou Um Laptop Por Criança) de Nicholas Negroponte seria o análogo mais próximo.
1. IBM SCAMP (1973)
Os primeiros computadores ditos portáteis possuíam todos um design muito similar: devido o tamanho dos componentes eles eram acondicionados em uma maleta, que comportava o teclado, drives de disquete, leitores de fitas cassete e um minúsculo monitor.
A IBM foi a primeira companhia a investir no formato, com o protótipo chamado SCAMP (de Special Computer APL Machine Portable). Ele usava processador PALM, um leitor de cassetes da Philips e um monitor CRT, e emulava o IBM 1130 para rodar a linguagem APL. ele não chegou a ser vendido, mas é considerado hoje como o primeiro computador portátil de facto, cujas decisões de design influenciariam modelos posteriores.
O único protótipo produzido do IBM SCAMP está em exposição no Smithsonian, em Washington D.C.
2. Calculadora programável HP-65 (1974)
Vai parecer trapaça, mas um ano antes do primeiro computador portátil chegar ao mercado, a HP introduziu a primeira calculadora programável do mundo, a HP-65. Embora já existissem calculadoras científicas, a primeira gráfica, a Casio fx-7000G, só surgiria bem depois, em 1985.
Nos anos 1970, a HP disputava com a Texas Instruments uma guerra pelas melhores calculadoras científicas, com a segunda apresentando em 1973 a TI SR-50, a primeira capaz de fazer operações trigonométricas e logarítmicas.
A resposta da HP veio um ano depois: a HP-65 possuía 9 registradores e era capaz de armazenar até 100 operações, além de permitir o carregamento e salvamento de funções através de cartões magnéticos. Isso aproximou bastante a categoria de um computador, embora fosse focado apenas em operações aritméticas (o que a grosso modo, é a única linguagem que um PC entende).
O preço? US$ 795, o equivalente a US$ 4.134,47 (~R$ 21.056,86) em valores atuais.
3. IBM 5100 (1975)
Apresentado dois anos depois do SCAMP, o IBM-5100 é basicamente a versão finalizada do protótipo original, pronto para ser vendido, rodando APL, BASIC ou ambas linguagens. Embora muito menor e mais leve do que os computadores tradicionais da época, ele ainda pesava monstruosos 24 kg, o que fazia dele um "tudo em um" compacto. O preço sugerido a partir de US$ 8.975 (~US$ 42.771, ou ~R$ 219.372) também deixava claro sua natureza, de produto para empresas.
Ainda assim, o 5100 foi um divisor de águas na computação móvel, ao apontar uma possibilidade não visualizada pelo mercado. Em 1981, a IBM referenciou o 5100 como "antecessor" do IBM PC-5150, o computador pessoal que virou o mercado de ponta-cabeça, embora ambos não compartilhassem de uma mesma arquitetura.
4. MIT Suitcase Computer (1975)
Este literal "computador na maleta" foi o projeto de tese de David Emberson, um aluno do Laboratório de Sistemas Digitais (DSL) do MIT. Ele merece ser mencionado por ter sido o primeiro baseado em um microprocessador, no caso o Motorola 6800, além de ser bem mais leve (9,1 kg) e trazer uma porta serial, que o permitia ser conectado a um modem ou baixar programas.
Ele não possuía tela: a saída era feita por papel, usando um rolo de fita de uma caixa registradora. Por ser um projeto de universidade, ele nunca foi produzido em escala.
5. Xerox NoteTaker (1976)
A Xerox PARC não viveu somente de projetos copiados pela Microsoft e Apple, como o Alto. O primeiro protótipo do NoteTaker usava o processador Intel 8086 e tinha 256 kB de RAM, mas era quase tão pesado quanto o IBM 5100, com 22 kg.
Assim como o Alto, ele não foi produzido em escala, mas o protótipo serviu como base para produtos posteriores, dentre os quais destaca-se o...
6. Osborne 1 (1981)
Fundada em 1980, a Osborne Computer Corporation (ou OCC) se focou em massificar a produção de computadores verdadeiramente portáteis e que fossem uma solução em si mesmo (embora leve, o Apple II não tinha monitor). O resultado foi o Osborne 1, que atingiu fez sucesso na época.
Também pudera: com "apenas" 10,7 kg e preço sugerido de US$ 1.795 (~US$ 5.062, ou ~R$ 25.744), ele foi o primeiro computador portátil que o usuário final podia comprar e usar em qualquer lugar. Com um processador Zilog Z80 de 4 MHz e 64 kB de RAM, aliados a um monitor de 5 polegadas monocromático, um teclado completo e diversas entradas, ele foi uma opção interessante por pelo menos dois anos.
7. GRiD Compass (1982)
A GRiD Systems Corporation foi a primeira empresa a colocar no mercado o que é considerado o primeiro laptop do mundo, um PC leve o bastante para ser levado debaixo do braço e apoiado no colo. com ridículos 5 kg (para a época) e um case sólido, o GRiD Compass trazia um monitor monocromático de 320 x 240 pixels, processador Intel 8086, 540 kB de RAM um modem de 1.200 bits.
Claro que por ser tão compacto, ele não trazia unidades de disquete acopladas, que deviam ser ligadas à porta IEEE-488/GPIB. Por outro lado, ele era tão robusto que conquistou um cliente de peso: a NASA.
O governo dos EUA foi o principal comprador do GRiD Compass (o GRiD OS, um sistema operacional bastante especializado, também ajudava), que acabou embarcado em missões dos shuttles na segunda metade dos anos 1980, além de ter sido adotado pelas Forças Especiais, por ser leve o bastante para ser incluído no equipamento de paraquedistas.
Obviamente o GRiD Compass custava caro: por US$ 8.150 (~US$ 21.654, ou ~R$ 111.079), ele perdia de longe quando comparado aos concorrentes para o mercado final.
8. Compaq Portable (1983)
O outro computador baseado no Xerox NoteTaker chegou ao mercado em 1983, e basicamente sepultou o Osborne 1. O motivo para isso foi o fato de ser 100% compatível com os softwares e placas de expansão IBM PC, sendo assim um dos primeiros "PC clones" disponíveis.
Embora mais pesado (13 kg) e mais caro (US$ 3.590, aproximadamente US$ 9.241 ou R$ 47.128 hoje), a compatibilidade do Compaq Portable com a linha IBM PC foi seu principal ponto a favor, além de ser mais poderoso, sendo equipado com um Intel 8088 de 4,77 MHz e 128 kB de RAM.
9. Dulmont Magnum (1983)
Similar ao GRiD COmpass, o Dulmont Magnum foi um dos primeiros laptops para o usuário final, mas diferente de seu concorrente, ele foi pioneiro ao trazer uma bateria embutida, dispensando o uso obrigatório via tomada como todos os demais.
Equipado com um processador Intel 186 e até 384 kB de RAM, o Magnum foi inicialmente um produto voltado apenas para o mercado australiano, produzido por uma companhia elétrica local. Relativamente leve (5,1 kg) e acessível (AU$ 2.995 no modelo com 128 kB), ele foi posteriormente lançado em mais mercados.
10. Commodore SX-64 (1984)
O SX-64, conhecido na Europa como Executive 64 ou apenas VIP-64, era a versão tudo-em-um do Commodore 64, um computador doméstico que podia ser facilmente ligado a uma TV. Desenvolvido originalmente para crianças e jovens, permitindo carregar programas educacionais e jogos, ele foi um dos motivos para o Crash dos Videogames de 1983.
O hardware era basicamente o mesmo, acondicionado no design maleta e acompanhado de um monitor VIC-II de 16 cores e resolução de 320 x 240 pixels, o que fez dele o primeiro computador portátil com tela colorida do mundo.
O peso de 10,2 kg era compensado pelo baixo preço, de apenas US$ 995 (~US$ 2.455 ou ~R$ 12.511), mas ironicamente ele não vendeu bem, porque a Commodore anunciou um upgrade futuro a curto prazo, e os consumidores preferiram esperar. Resultado, o SX-64 naufragou o DX-64 nunca foi lançado.
11. Apple Macintosh Portable (1989)
A maçã já havia tentado antes com modelos portáteis, como o Apple IIc Portable ou mesmo o Macintosh original, cuja ideia vendida por Steve Jobs era de um computador completo que cabia em uma sacola, mas foi o Macintosh Portable o verdadeiro antecessor da linha MacBook.
Ainda assim, ele não era tão convidativo assim: com um peso maior do que a média da época (7,2 kg), o Mac Portable tinha problemas de design que o impediam de ser usado enquanto a bateria estivesse carregando, por ter sido ligada em série com o conector AC. Ah sim, a bateria era similar a uma automotiva, e não podia ser zerada ou sofreria danos.
Ainda assim ele era consideravelmente poderoso, com um processador Motorola 68000 de 16 MHz e 1 MB de RAM, expansível até 9 MB. O preço, no entanto era salgado: US$ 7.300 no modelo com disco rígido, o equivalente hoje a US$ 15.094 ou R$ 76.899.
12. IBM 2521 ThinkPad (1992)
No início dos anos 1990, o mercado de laptops se tornou mais acessível principalmente com o surgimento de modelos mais compactos, em que novamente a IBM foi pioneira com a linha ThinkPad. O formato foi ideia do designer industrial Richard Sapper, que se inspirou em um bentō, a marmita japonesa.
O primeiro modelo 2521, apresentado em 1992 era bem desengonçado se comparado aos modelos de hoje, mas basta uma olhada para perceber que todas as principais características da categoria foram enfim definidas com ele e seus sucessores.
Mesmo hoje, com a linha nas mãos da Lenovo, a marca ThinkPad permanece como sinônimo de qualidade e excelência, principalmente por manter decisões de design, e parte da produção, centrada no Japão.
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