A nossa geração é talvez a primeira a se encantar pela publicidade direcionada a vendas. Talvez seja a primeira a assumir o péssimo hábito de se identificar com marcas - e as marcas não perdem seu desmérito: são elas que criam um ambiente favorável e propagandeiam uma noção mais humana das empresas, deixando um espectro de lealdade e bondade sobre as atividades unicamente direcionadas ao lucro que ela própria pratica.
Como assim? A força da identificação do consumidor com a marca é contemporâneo à noção publicitária de que o consumidor deve ter uma identificação e, por conta disso, as marcas precisam expressar valores que estejam de acordo com seu público alvo. Ao mesmo tempo que os consumidores estão dispostos a ter nas marcas seus novos referenciais (e, portanto, perder os refernciais da moral, da nacionalidade, da etnia, da raça, da classe e etc), as marcas se esforçam para fazer de si mesmas os novos referenciais legítimos desta nova geração.
Não é difícil entender a origem disso: Zygmunt Bauman, em sua obra, já descreve uma sociedade fluida, que perde seus pontos de fixação e acaba se dissolvendo na lógica do mercado, que não passa de uma lógica umbiguista do culto ao eu. É por conta disso que as marcas passaram a tomar para si essa responsabilidade de referência para a vida. Só elas poderiam ter essa responsabilidade "naturalmente", já que elas são, por excelência, a concretização da visão individualista de mundo em que o consumidor é o rei e portador da razão. As marcas são referenciais escolhidos pelos consumidores, portanto, são referenciais comprados.
O exemplo mais perfeito sem sombra de dúvidas é o da Coca-Cola. Ela deixou de ser uma marca para se tornar, como ela própria diz, um evento. Não é um refrigerante, este líquido escuro na verdade se enxerga como parte do conteúdo de novas relações sociais. Mas quando foi que deixamos de ter na religião, na comunidade, no partido ou no ofício o conteúdo de nossas relações sociais? As marcas não eram referenciais há uns 80 anos, por exemplo. Isto é relativamente novo.
A dúvida que bate em nossa porta é: devemos então ser guiados pelas marcas ou devemos construir novos referenciais genuinamente nossos? Devemos acreditar nessa individualidade falsa que as marcas nos imputam, ou devemos de fato encontrar a nós mesmos em lugares longe do poder de influência do mercado? Reta saber se queremos ou não fugir deste espaço cômimo de consumo.
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