Alguns clássicos da ficção científica são tão grandiosos que são infilmáveis, até a tecnologia ser capaz de traduzir essas obras para o cinema ou TV
Existem vários livros clássicos da Ficção Científica, quase todos compartilham uma característica: São extremamente difíceis de traduzir para outras mídias, alguns são sagas imensas, outros exigem tantos efeitos visuais que o orçamento se torna impraticável, ou sequer há tecnologia para isso.
Mesmo assim as pessoas tentam, com resultados nem sempre satisfatórios, mas determinadas histórias são tão, tão ambiciosas que nem se chega a tentar. Por isso a surpresa quando a Apple anunciou que estava desenvolvendo uma série baseada no arco Fundação, de Isaac Asimov.
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Junto disso temos uma nova versão de Admirável Mundo Novo, livro de Aldous Huxley de 1932, tão complicado que só foi adaptado para rádio três vezes e televisão duas vezes, e isso em 1980 e 1998.
Agora ele vai virar uma série, pelas mãos da NBC.
Quais as temáticas, qual a trama e o que torna essas histórias tão especiais? Que bom que você perguntou. Vamos a elas:
1. Admirável Mundo Novo
A história de Huxley é uma das mais clássicas distopias; após uma série de guerras, a Humanidade se reorganizou em uma sociedade que é uma espécie de utopia pós-socialista. Henry Ford é tratado como uma figura quase divina. Não há mais pobreza, desemprego ou tensão social.
A vida de cada indivíduo é planejada desde antes do nascimento. Existem cinco castas sociais: Alfas, Beta, Gamas, Deltas e Épsilons, cada uma desempenha atividades específicas, com os Alfas sendo os responsáveis pelo governo e atividades intelectuais, até os Épsilons semi-aleijões, que eram deliberadamente danificados nas incubadoras para nascerem bem limitados.
Todas essas castas eram ensinadas desde pequenos para amar sua condição social, e não invejar as castas superiores.
Além do emprego o Estado também provia a diversão, com cinemas, teatros, concertos e farta distribuição de Soma, uma droga que dependendo da dose podia servir como relaxante indo até um alucinógeno como LSD, mas sem efeitos viciantes.
Sexo também era liberado, a nova sociedade estimulava a promiscuidade, relacionamentos monogâmicos eram vistos como anômalos.
O Governo Mundial só não tolerava dissidência, havia forte censura a tudo que fosse anterior à “revolução”, e individualismo não era encorajado.
A história sofre uma reviravolta quando em uma visita a uma reserva indígena é descoberto um jovem branco, filho de uma mulher que havia sido abandonada e dada como morta. O Selvagem, como ficou conhecido, é levado para a civilização, aonde confronta a Utopia com sua visão baseada nas antigas tradições, misticismo e um profundo conhecimento das obras de Shakespeare.
O grande mérito de Admirável Mundo Novo é mostrar uma Distopia Utópica. Até os 30 anos temos horror daquele mundo, depois dos 30 a gente começa a pensar se casa comida balinha e facilidade para coelhar em troca de poder falar mal do governo não é uma excelente proposta.
Ao contrário de Orwell, a Distopia de Huxley não é uma sociedade militarizada opressora, mas ao mesmo tempo é muito pior, com o destino de cada um decidido antes da pessoa existir. Ou seja: Em teoria pode até ser interessante escolher viver nessa Utopia, mas o fato da escolha não existir, a torna uma distopia.
Admirável Mundo Novo é um livro que você deve ler, mesmo que não assista a série, que estreia 15 de Julho de 2020, no serviço de streaming Peacock, da NBC.
2. Fundação
Esqueça Star Wars, Fundação é considerada a maior saga no reino da Ficção Científica. O núcleo da história é composto de sete livros escritos por Isaac Asimov entre 1942 e 1993.
Fundação cobre milhares de anos de história galáctica. Se passa no futuro distante, a Terra é um planeta esquecido, existindo apenas como lenda. O Império Galáctico ocupa toda a Via Láctea.
Um cientista chamado Hari Seldon desenvolve uma nova ciência, chamada Psicohistória, com a qual consegue prever mudanças políticas e sociais em grande escala. Ele descobre que o Império vai ruir e a Humanidade passará por 30 mil anos de caos e anarquia.
Ele cria um plano aonde cientistas preservarão o conhecimento científico do Império, e se tudo der certo o período de escuridão será de apenas mil anos, o que soa muito mas em escala galáctica é bem melhor do que 30 mil.
Fundação não é uma história de navinha pewpewpew, envolve ciência, política, intriga, impérios e mistérios. É uma saga tão seminal, tão fundamental no Universo da Ficção Científica que uma das maiores e mais conhecidas sagas, Duna, foi escrita como um contraponto à Fundação.
De Futurama ao Guia do Mochileiro das Galáxias, tudo foi influenciado por Fundação. Coruscant, o planeta capital do Império Galáctico de George Lucas é uma representação extremamente fiel de Trantor, planeta capital do Império Galáctico de Fundação.
Conhecer Fundação é conhecer o alicerce de toda a Ficção Científica moderna, mas por ser tão ambicioso nunca conseguiram fazer uma versão cinematográfica da história, no máximo uma versão radiofônica.
A proposta de uma série de TV começou a ser negociada em 2017. Um ano depois foi anunciado que a Apple iria produzir Fundação, para seu serviço Apple TV+. No comando da produção, como showrunner e roteirista, David Goyer. Como produtora executiva ninguém menos que Robyn Asimov, a filha do homem.
Eles estão gastando muito dinheiro e aparentemente estão no caminho certo, criando uma história muito mais visual do que a imensa burocracia galáctica da história original, que funciona maravilhosamente bem em livros, mas não em TV.
A Apple resolveu pular o piloto, encomendou direto todos os dez episódios da primeira temporada, que se tudo der certo devem começar a ser exibidos em 2021. Recentemente divulgaram o primeiro teaser-trailer.
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